Peixes pequenos mas que são a ronca do mar.
Simbolizam os orgulhosos, os fanfarrões, os
prepotentes, os que prometem mundos e fundos,
mas que, na hora da verdade, se retiram
cobardemente. Assim, S. Pedro foi um roncador.
Prometeu levantar a sua espada contra os
detractores de Cristo, mas quando uma
mulherzinha o acusou de ser Seu seguidor, logo
negou três vezes.
Duas coisas tornam os homens emproados
(roncadores):
*O saber
- Caifaz inchava de saber.
*O
poder
- Pôncio Pilatos roncava de poder.
Acontece, porém, que os arrogantes, os soberbos
serão humilhados por Deus. Por isso, devem os
homens seguir o exemplo de Santo António, que
tinha saber e poder, mas que nunca se vangloriou
("brasonou") disso.
OS PEGADORES
Os pegadores ou rémoras são peixes
pequenos que vivem agarrados a outros peixes,
levando uma vida parasitária. Tiram disso
proveito, porque se alimentam, mas também estão
sujeitos a consequências nefastas. É que,
sobrevindo a morte aos peixes grandes (entre
eles os tubarões), da mesma forma aqueles peixes
pequenos são arrastados para o abismo.
Tal como os
roncadores, há homens que vivem às custas dos
outros, mormente daqueles que, temporariamente,
ocupam o poder. Mas como esse poder é
temporário, muito efémero, não admira que os "pegadores"
homens sejam arrastados pela queda voraz dos
seus senhores. E quantas vezes sem tirarem
proveito da situação, porque é frequente os
grandes comerem (o tubarão morre porque comeu,
sendo, menos mal, vítima da sua própria gula...)
e os pequenos pagarem pela sua ousadia!
Efectivamente, Adão e Eva foram condenados pela
sua gulodice e quem sofreu com isso fomos
nós, que nascemos em pecado venial!...
Então, a
única forma de resistir à condenação e/ou
destruição será "pegando-se" a Deus. Assim
fizeram David e Santo António, que não se
pegaram aos grandes da terra, mas ao seu Deus.
OS
VOADORES
Os voadores são peixes que fazem das barbatanas
asas. Por quererem sair do seu elemento
natural, correm um duplo perigo: o dos peixes e
o das aves. Por esse motivo, em vez de voarem,
correndo o risco fatal de baterem contra as
velas ou as cordas dos navios, deviam meter-se
no fundo de alguma cova, onde, escondidos,
viveriam mais seguros.
Peixe
voador
A
Chega a medir até 25 cm de comprimento. Quando o
peixe-voador
salta para fora da água para "voar",
pode
atingir uma altura de 6 metros e planar por uma
distância de 90 metros.
Recentemente uma equipa do canal de televisão
japonês
NHK filmou um peixe-voador planando
no
ar durante 45 segundos, no que pode ser o voo
mais longo
alguma vez gravado da espécie marinha.
Representam, neste sermão, os vaidosos, os
presunçosos, os ambiciosos, ilustrados por
figuras mitológicas, lendárias ou bíblicas, a
saber:
*
Ícaro,
que se aproximou demasiado do sol, pelo que as
suas asas derreteram, tendo-se afogado no rio
Danúbio;
*
Simão Mago,
um homem famosíssimo pelas suas artes mágicas,
dizendo-se o verdadeiro Filho de Deus, e tendo
mesmo assinalado o dia em que subiria, de Roma,
aos céus, só que, numa queda precipitada e
previsível (a oração de S. Pedro voou mais
depressa até Deus que ele), veio a perder as
asas e a partir os pés, deixando, assim, de
poder voar e de poder andar;
*
Aquela mulher
que S. João Evangelista viu
no Apocalipse,
que estava no céu e a quem foram fornecidas duas
asas de águia, que ela utilizou, insensatamente,
para voar para baixo, para o deserto, querendo,
pois trocar o Céu pela
Terra!...
Todas essas
figuras perderam tudo por tanto quererem, pois "quem
quer mais do que lhe convém, perde o que quer e
o que tem".
E, mais uma
vez, é apresentado o exemplo de Santo António,
cuja alma, embora tendo "duas
asas de águia, que foi aquela duplicada
sabedoria natural e sobrenatural",
"não
as estendeu para subir",
antes, "encolheu-as
para descer",
sendo humilde.
Então, que
ele sirva de modelo para todos nós.
Debaixo da
aparência de Monge, de Estrela, de brandura e
mansidão, o polvo é o maior traidor do mar. Com
efeito, este monstro "tão
dissimulado, tão fingido, tão astuto, tão
enganoso",
recorre ao estratagema da camuflagem,
transmutando a sua cor, de acordo com o local
onde se encontra, para, desta maneira, melhor
aprisionar as presas, abraçando-as mortalmente
com os seus tentáculos.
O seu embuste
traiçoeiro é tão grande, que o Padre António
Vieira, empolando, naturalmente, o assunto,
assevera que Judas, que entregou Cristo, não foi
tão traidor como o polvo: "Judas
abraçou a Cristo, mas outros o prenderam; o
Polvo é o que abraça, e mais o que prende.
Judas com os braços fez o sinal, e o Polvo dos
próprios braços faz as cordas. Judas, é verdade,
que foi traidor, mas com lanternas diante:
traçou a traição às escuras, mas executou-a
muito às claras".
O polvo é
símbolo, pois, de todos os homens que são
dissimulados, fingidos, astutos, ardilosos,
enganosos, daqueles que se aproveitam do alheio
(sobretudo dos "bens
dos naufragantes")
e "para
os homens não há mais
miserável morte que o morrer com o alheio
atravessado na garganta, porque é pecado de que
o mesmo S. Pedro e o mesmo Sumo Pontífice não
podem absolver".
Santo António deve ser, portanto, imitado, de
novo, porque ele é o "mais
puro exemplar da candura, da sinceridade e da
verdade, onde nunca houve dolo, fingimento ou
engano".
Talvez também tenha interesse em ver comentáros
de poemas e estudos integrais de todas as obras e
autores que fazem parte dos programas de
Português e de Literatura Portuguesa dos 9.º ao
12.º anos de escolaridade.