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BANDARRA, GONÇALO ANES (1500 - 1545)
Sapateiro e poeta popular, ficou célebre pelas suas trovas proféticas, ainda
hoje recordadas sempre que uma desgraça pública evoca a imagem de um salvador
messiânico.
Versado nas Escrituras do Velho Testamento, que interpretava a seu modo, as suas
trovas suscitaram interesse sobretudo entre os cristãos-novos, provocando um
olhar atento por parte do Santo Ofício. Inquirido perante este tribunal,
Bandarra foi ilibado, mas obrigado a participar na procissão do auto-de-fé de
1541 e a nunca mais interpretar a Bíblia ou escrever sobre assuntos a ela
referentes. As suas trovas foram proibidas pela Inquisição, mas continuaram a
circular manuscritas. Em 1603 foram impressas pela primeira vez, por iniciativa
de D. João de Castro, com o nome Paráfrase e Concordância de Algumas Profecias
de Bandarra. Em 1643, o marquês de Niza, embaixador de D. João IV em França,
mandou fazer uma segunda edição. Proibidas de novo em 1661 pela Inquisição, e em
1768 pela Real Mesa Censória, as trovas continuaram a circular, surgindo
acrescentadas nas edições de Barcelona-Londres, Trovas Inéditas de Bandarra
(1815); de Lisboa, Verdade e Complemento das Profecias (1822-1823); do Porto, em
1852; e ainda de uma versão de 1911 (Lisboa).
As profecias de Bandarra assumiram grande importância na cultura portuguesa,
nomeadamente na tradição dos mitos messiânicos e sebastianistas nacionais. A
ideia, nelas presente, de um salvador que devolvesse à pátria a sua grandeza,
influenciou decisivamente várias personalidades, como o padre António Vieira, em
Esperanças de Portugal, Quinto Império do Mundo e reflectiu-se, ainda, em
inúmeras obras literárias e ensaísticas.
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