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ANÁLISE DA CANTIGA

- Verdes são os campos -

 

  

 

 

Mote

Verdes são os campos,
de cor de limão:
Assim são os olhos

Do meu coração.

Voltas

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendeis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

 

Luís de Camões

 

 

Notas: V. 8 - pasto: alimento; V. 13 - pasceis: apascentais; V. 19 - graças: encanto.

 

 

 

 

 

   

 

OUTRAS LINHAS DE LEITURA:

 

1. ASSUNTO:
 

Dentro do mesmo ciclo – o da menina dos olhos verdes – este é um dos poemas mais recordados.

Um dos processos do estilo engenhoso consiste em coisificar uma qualidade do objeto tratado, o que será muito característico da poesia concetista do séc. XVII e havia já sido denunciado no realismo idealista de Platão. Sendo assim, para o Poeta como para o Filósofo, para quem as coisas são reflexos e efeitos dos arquétipos que estão no Sumo Bem essencializados, os cabelos não são louros, mas sim ouro em fio; as faces não são rosadas, mas rosas; e os olhos não são verdes, mas a própria verdura e a origem.

Este será o motivo por que as ervas que alimentam o gado pelos campos são graças dos olhos da sua amada e lembranças do seu coração.

2. ATENTE:


a) No ritmo simétrico dos primeiros quatro versos, com que se inicia a primeira volta, em que ambas as prótases (primeira parte da frase / período) e apódoses (segunda parte da frase / período) se assemelham em extensão, respetivamente, seguido do ritmo assimétrico entre os quatro últimos, em que existe também um paralelismo semântico (
d’ervas / das lembranças):


Campo /, que te estendes
com verdura bela
;
ovelhas /, que nela
vosso pasto tendes
;
d’ervas vos mantendes
que traz o Verão
/,
e eu / das lembranças
do meu coração
.


b) No jogo semântico, ainda na primeira volta, feito com palavras - rima com palavras da mesma família (
tendes / mantendes, esta última omitida por elipse, no penúltimo verso).


c) No trocadilho no fim da segunda volta, em que a repetição intensificativa do advérbio de negação lhe dá uma certa graça, acrescentada ainda pelas rimas em /-
do/, de tom madrigalesco.


d) Na interpelação apostrófica e alegórica do campo, das ovelhas e do gado, que formam os elementos constituintes de um fundo pastoril e campestre que ressalta de toda a composição.


3. CLASSIFICAÇÃO DA COMPOSIÇÃO E ESQUEMA RIMÁTICO: cantiga em redondilha menor, com mote alheio de quatro versos e duas voltas de oito, segundo o esquema rimático ABCB / deeddBfB (na segunda volta os três últimos versos repetem a rima dos três últimos do mote), isto é, há rima cruzada no mote (que tem dois versos soltos), emparelhada, cruzada e interpolada nas voltas (onde há um verso solto).
 

BRAGANÇA, António (1981). Textos e comentários, c/ adaptações.
 

Publicado por

Joaquim Matias da Silva

 

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