Os bons vi sempre passar
No Mundo graves tormentos;
E, para mais m'espantar,
Os maus vi sempre nadar
Em mar de contentamentos.
Cuidando alcançar assim
O bem tão mal ordenado;
Fui mau, mas fui castigado;
Assi que, só para mim
Anda o Mundo concertado.
Neste poema, “Esparsa Sua ao Desconcerto do Mundo”,
podemos dizer que se confrontam dois temas: a maldade e
a bondade; e a sorte e o azar.
A maldade e a bondade são duas coisas completamente
opostas, pois maldade é aquilo que define alguém que tem
tendência a praticar o mal, alguém cruel e ruim.
Enquanto bondade, é uma qualidade daquele que pratica o
bem, que apresenta brandura e benevolência.
O poeta passa a ideia de que as pessoas boas não
conseguem ser felizes, devido ao desconcerto em que o
mundo se encontra. Estas pessoas, sofrem os azares do
mundo, enquanto se esforçam ao máximo para fazer sempre
aquilo que se considera correcto. E quando por acaso,
uma destas pessoas pratica o mal, geralmente é
castigada, pois foge dos seus padrões. Ao tentar fazer
sempre o mais acertado, a pessoa não aproveita. No
entanto, as pessoas más, vivem sempre contentes e
geralmente têm sorte, pois adaptam-se aquilo que
consideram a realidade, a sua realidade. Nadando assim
em felicidade. Praticam sempre o mal e não correm o
risco de sem querer, vir a praticar o bem e ser
castigados por isso.
O que o poeta quer para o mundo, é o contrário disto. O
poeta deseja que os bons tenham sucesso na sua vida e
que aos maus aconteça o oposto, que tenham azar. Mas as
coisas nem sempre são como nós queremos.
Nos últimos 5 versos, o poeta fala de como foi castigado
por praticar o mal. Eu acho que o que o poeta tenta
fazer é mostrar o seu lado mais negro, sendo no entanto
uma pessoa de bem. Por esse motivo, a sua tentativa de
tentar ver o mundo de outro modo, leva-nos a perceber
que a maldade em si (no poeta) não existe.
Podemos portanto concluir que a justiça é cega. É cega
pois não quer ver aquilo que se encontra exactamente à
sua frente. Muitas vezes, aqueles que praticam um
pequeno delito são logo “crucificados”, enquanto aqueles
que cometem grandes delitos, levam apenas uma pequena
repreensão. Por esse motivo, o poeta dá a entender que
as pessoas boas não se conseguem livrar de tristezas.
in
http://humanidades1011esqm.blogspot.pt/2011/01/esparsa-sua-ao-desconcerto-do-mundo_2768.html