LABIRINTO DO AUTOR QUEIXANDO-SE DO MUNDO
Corre sem vela e sem leme
O tempo desordenado

Dum grande vento levado
O que perigo não teme
É de pouco exprimentado
As rédeas trazem nas mãos
Os que rédeas não tiveram
Vendo quanto mal fizeram
A cobiça e ambição
Disfarçados se acolheram
A nau que se vai perder
Destrui mil esperanças
Vejo o mau que vem a ter
Vejo perigo correr
Quem não cuida que há mudanças
Os
que nunca em sela andaram
Na sela postos se vêm
De fazer mal não deixaram
De demónios hábito têm
Os que o justo profanaram
Que poderá vir a ser
O mal nunca refreado
Anda por certo enganado
Aquele que quer valer
Levando o caminho errado

É para os bons confusão
Ver que os maus prevaleceram
Posto que se detiveram
Com esta simulação
Sempre castigos tiveram
Luís de Camões
Publicado por
Joaquim Matias da Silva
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