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Fernando Pessoa

 

Localização de Portugal na Europa

 

Pessoa visualiza a Europa na figura de uma mulher que, de bruços, fita, passiva e indiferente, a distância.

 

É a imagem de alguém que perdeu a alegria de viver e que, no presente, recorda nostalgicamente os tempos áureos das civilizações grega e romana ("toldam-lhe românticos cabelos / Olhos gregos lembrando"), civilizações que foram o seu orgulho, a sua razão de viver, pois foram os olhos que levaram a luz, a vida, a todos os recantos do mundo. Noutros tempos, essa mulher desenvolveu todas as suas capacidades, assumiu plenamente o seu papel de mãe criadora e renovadora - veja-se a importância das culturas greco-latinas, que estão na base de toda a civilização ocidental. Agora, decrépita, vive apenas de lembranças. O seu corpo está cansado, "jaz", como "cansadas" estão duas nações importantes da Europa (a Inglaterra e a Itália), identificadas como os cotovelos.

 

Mas nos olhos enigmáticos, esfíngicos, dessa figura inerte, vislumbra-se ainda um desejo de regresso às origens... É necessário renascer. Um novo mundo espera-a!... Não já um mundo perecível, como o do passado, que se desmoronou, porque assente em valores materiais, mas um mundo imperecível, um mundo construído com aquilo de que os sonhos são feitos, onde o Homem se realizará plenamente, logo, um mundo espiritual, cultural, dado que só os valores espirituais são imorredouros.

 

Como cabeça da Europa, única parte do corpo que ainda se mantém activa, compete a Portugal e aos portugueses serem o garante desse novo mundo, desse império grandioso cujos ecos hão-de atroar pelo Universo - o Quinto Império Português, o império do Sol, da Luz, do Conhecimento, em que o Homem se sentirá plenamente realizado. Assim, o olhar perscrutador de Portugal fixa-se no ocidente, no Oceano Atlântico: "Fita, com olhar esfíngico e fatal / O Ocidente..". É a partir dele que os novos caminhos  do "Futuro" têm, fatalmente, de ser rasgados, caminhos que, forçosamente, terão de ser diferentes dos do "Passado", que levaram à criação de um grande império terreno, mas também à sua destruição e à destruição do próprio país ("Cumpriu-se o Mar, e o Império se desfez").

E deste modo se cumprirão as palavras de Pessoa, publicadas em Setembro de 1912, na revista A Águia: «E a nossa grande Raça partirá em busca de uma Índia Nova, que não existe no espaço, em naus que são construídas "daquilo de que os sonhos são feitos". E o seu verdadeiro e supremo destino, de que a obra dos navegadores foi o obscuro e carnal antearremedo (= uma anterior imitação pobre, imperfeita), realizar-se-á divinamente».

Publicado por

Joaquim Matias da Silva

 

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