O
seu fel curou da cegueira do pai de Tobias
(Tobias, o velho)
O seu coração afugentou o demónio Asmodeu
que já tinha matado sete maridos a Sara, com
quem o filho de Tobias (o moço) viria a
matrimoniar-se.
Também os homens precisavam de
alguém que fosse fel e que lhes desse luz e os
fizesse sair da cegueira (escuridão) em que
viviam e de um coração bondoso que os levasse a
praticar o Bem e a escorraçar o diabo, a
encarnação do Mal.
Ora, esse
alguém existiu. Foi Santo António, cuja
boca lançou fel (= palavras amargas) sobre
aqueles que o não queriam ouvir, com a óbvia
intenção de os alumiar e de lhes curar as
cegueiras, e cujo coração, de tão bondoso,
afugentava os Demónios das pessoas,
purificando-as. Só uma diferença existia entre
Santo António e o Santo Peixe de Tobias: este
último abriu a boca contra quem se lavava
(Tobias); o primeiro abria a sua contra os que
se não queriam lavar.
A RÉMORA
Um peixe pequeno, mas que "se se pega ao leme
de uma nau da índia, apesar das velas e dos
ventos e do seu próprio peso e grandeza, aprende
e amarra mais que as mesmas âncoras, sem se
poder mover, nem ir por diante."
Quem dera que na terra houvesse alguma rémora
que fizesse parar as
NAUS
da Soberba
da Vingança
da Cobiça
da Sensualidade!
Uma rémora houve na terra que amansou essas
naus: foi a língua de Santo António que deteve o
orgulho, a fúria, a ira, o ódio, a ambição e a
depravação das pessoas, acenando-lhes com a
bandeira da paz, da justiça, do amor.
Infelizmente, nem sempre essa língua foi ouvida
pelos Homens. Daí que na terra haja tantos
naufrágios e tantos náufragos!...
O TORPEDO
Um peixe pequenino que emite vibrações quando
fica aprisionado no anzol, de tal modo que faz
tremer o braço do pescador..
Oxalá que na terra houvesse quem fizesse tremer
a consciência das pessoas, levando-as a praticar
o Bem. Que pena, "pescando os homens coisas
de tanto peso, lhes não trema a mão e o braço"!
Que pena que não houvesse alguém que lhes
fizesse vibrar as cordas da sua alma! Santo
António bem o tentou...
O QUATRO-OLHOS
Com
um tamanho que varia entre os 26 e os 50 cm, o
quatro-olhos pode ser encontrado em águas doces
ou salobras. E ao contrário do que poderíamos
ser levados a pensar, este peixe tem dois olhos.
No entanto, cada olho é uma estrutura dupla, que
se projecta acima da linha da água. A córnea
está dividida por uma banda pigmentada
horizontal numa zona superior, fortemente
convexa e numa zona inferior, plana. A íris
possui duas projecções que dividem a pupila em
duas, a superior adaptada à visão aérea e a
inferior, adaptada à visão aquática. Devido a
esta notável adaptação está muito bem estudado,
sendo de salientar o seu interesse em pesquisa
oftalmológica. Curiosamente, machos e fêmeas
possuem os seus órgãos sexuais orientados, ou
para a direita, ou para a esquerda. Devido a
este facto, os machos destros apenas podem
copular com fêmeas sinistras e vice-versa.
um peixinho que tem quatro olhos: dois fixam-se
no céu para o alertar para o perigo que vem das
aves marítimas; os outros dois olham para o
fundo do mar, de forma a preveni-lo para o
ataque de outros peixes.
Os Homens precisavam, do mesmo modo, de ter
quatro olhos: dois para olharem
"direitamente" para cima, para o Paraíso; os
outros dois para olharem "direitamente" para
baixo, para o Inferno. Talvez assim praticassem
o Bem e evitassem o Mal.
CONCLUSÃO
Esta parte termina com uma referência à
recompensa dada por Deus aos peixes, porque eles
são o alimento dos pobres e o sustento nos
tempos de penitência (Quaresma), jejum e
abstinência, enquanto o alimento dos ricos é
preferencialmente constituído pelas aves e pelos
outros animais. Mesmo aqueles peixes que são
mais servidos à mesa dos poderosos (os Solhos e
os Salmões) não foram tão abençoados pelo
Criador, dado "que são muito contados".
Inversamente,
aqueles que formam a base da alimentação dos
pobres (as sardinhas) são benditos,
reproduzindo-se em grande número - "Crescei
peixes, crescei e multiplicai-vos, e Deus vos
confirme a sua bênção".
Talvez também tenha interesse em ver comentáros
de poemas e estudos integrais de todas as obras e
autores que fazem parte dos programas de
Português e de Literatura Portuguesa dos 9.º ao
12.º anos de escolaridade.