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Sermão de Santo António aos Peixes

 

PARTE VI

 

PERORAÇÃO ou EPÍLOGO (Conclusão do discurso)

 

O desfecho é forte, de forma a impressionar o auditório e a levá-lo a pôr em prática os ensinamentos do pregador. O tom majestático inerente ao epílogo está ao serviço de uma constatação indesmentível: as últimas palavras são as que a memória dos ouvintes mais retém.

Nesta parte final, são feitos apelos e incitamentos aos peixes (por extensão, aos homens), aproveitando o orador para, mais uma vez, ironicamente, sobrevalorizar os peixes, colocando-os numa posição de superioridade, relativamente à dos outros animais e até à do próprio pregador.

 

SUPERIORIDADE dos peixes, relativamente a todos os outros animais. Com efeito,  são seres privilegiados, porque:

 

não foram escolhidos para os sacrifícios. E isso não poderia acontecer, porque só poderiam ir mortos, contrariamente aos outros animais que eram transportados vivos e, depois, imolados. Ora, Deus não quer que Lhe ofereçam coisa morta.

 

Os homens também chegam mortos ao altar porque vão em pecado mortal. Assim, Deus não os quer.

Os peixes guardam respeito e a obediência a Deus.

 

Os homens não o fazem.

 

SUPERIORIDADE dos peixes, em relação ao pregador

 

A sua bruteza é melhor do que a razão do orador.

Não ofendem a Deus com a memória.

O seu instinto é melhor que o livre arbítrio do orador: não falam, não ofendem a Deus com o pensamento, não ofendem a Deus com a vontade, atingem sempre o fim para que Deus os criou.

 

LOUVORES A DEUS

 

Os peixes devem louvar a Deus, pois Ele:

 

Criou-os em grande número.

 

Distinguiu-os em inúmeras espécies.

 

Concedeu-lhes enorme beleza.

 

Equipou-os com todos os instrumentos necessários à vida.

 

Deu-lhes um elemento tão largo e tão puro - a água.

 

Viveu entre eles e escolheu para apóstolos aqueles que com eles e deles viviam - pescadores.

 

Fez deles o sustento do homem.

 

  CONSIDERAÇÕES FINAIS

 

O hino Benedicite encerra o Sermão num tom festivo, cumprindo adequada e fielmente com o objectivo de comemorar Santo António, cuja festa se celebrava nesse mesmo dia.

 

A palavra Ámen, que significa "Assim seja", "que todos louvem a Deus", serve de incentivo a todo o auditório.

 

O quiasmo, consubstanciado na colocação das palavras "Glória" e "Graça", em ordem invertida, sugere a transposição dos peixes para os homens, acentuando o carácter alegórico do texto: já que os peixes não são capazes de nenhuma dessas virtudes, sejam-no os homens. Traduz também uma mudança: a conversão (metanóia), porque só em "Graça" os homens podem dar "Glória" a Deus.

 

 

Elaborado por

Joaquim Matias da Silva

 

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