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Luís de Camões -  Poesia lírica

 

- Medida velha, o que é? -

 

Engloba as composições camonianas que respeitam a corrente tradicional, sendo constituída, na sua maior parte, por composições de tipo palaciano, de importação castelhana, usadas pela primeira vez no Cancioneiro Geral (1516) de Garcia de Resende: vilancetes, cantigas, trovas, esparsas e endechas, além de um ABC em motos e um labirinto. Em algumas destas composições encontramos reminiscências das velhas cantigas trovadorescas como:

- de barcarolas - "irme quiero madre / à aquella galera;

- do cenário da fontana fria  - "Descalça vai para a fonte";

- de pastorelas e serradilhas - "Pastora da serra, / da serra da Estrela, / Perco-me por ela".

- do tema dos olhos verdes - "Verdes são os campos".

Para além destes temas populares e tradicionais (temas ligeiros, sentimentalistas e de amores fugazes), Camões deitou também mão da enorme variedade de temas palacianos, alguns leves e fúteis, outros humorísticos e/ou sobre facetas da sua vida e da vida dos seus amigos.

 

Assim, se é verdade que a corrente renascentista encontrou em Camões um intérprete genial, não será menos verdade que a corrente tradicional encontrou nele um ótimo continuador. Como os restantes poetas do seu tempo, com exceção de António Ferreira, o autor dos Poemas Lusitanos, não a desprezou e no seu metro de redondilha maior (ou arte real) e menor escreveu algumas das suas composições mais conhecidas, quase sempre repassadas de erotismo comedido ou de humor brincalhão. "Até parece ter guardado para esta medida versificatória todas as meiguices, todas as ternuras, todos esses nadas que tornam o amor fatal e atraente».

 

VILANCETE

 

É uma composição formada a partir de um mote curto (de dois ou três versos)tradicional ou quase sempre alheio, seguido de uma glosa, formada por coplas ou voltas de sete versos (septinas ou setilhas), sendo que os primeiros quatro versos de cada copla constituem a cabeça e os últimos três a cauda. A cabeça e a cauda mantêm uma relação formal entre si porque o último verso da cabeça rima com o primeiro da cauda. Além disso, cada uma das coplas finaliza com a repetição integral ou parcial do último verso do mote .

O vilancete era apenas destinado a assuntos amorosos.

 

CANTIGA

 

Tem, como o vilancete, um mote, mas de quatro ou cinco versos, seguido de uma ou mais glosas (ou voltas) com oito, nove ou dez versos, em que o último repete também textual ou aproximadamente o último verso do mote (por vezes, essa repetição só se verifica ao nível da rima).

Admitia maior variedade de temas que o vilancete, que era apenas destinado a assuntos amorosos, como foi acima referido.


TROVA

 

Não tem mote nem glosa (ou voltas), mas apenas um número de estrofes sem limite fixado.

 

ESPARSA

 

É uma composição, quase sempre epigramática, de carácter satírico, formada de uma só estrofe com um mínimo de oito e um máximo de dezasseis versos. Como a trova, também a esparsa não tem mote nem glosa (ou voltas).

 

 

ENDECHAS

 

É uma composição madrigalesca, ou seja, uma composição poética em que, engenhosa e galantemente, se celebra uma dama, em versos de cinco sílabas e apresentada em quadras / oitavas.

 

 

ABC EM MOTOS

 

Trata-se de um abecedário de mitologia, muito caraterístico, dirigido pelo Poeta a alguém a quem chama Ana. Cada letra - de A a X - tem um ou mais tercetos em redondilha maior, cujo primeiro verso começa por essa letra.

 

LABIRINTO

 

Camões escreveu uma composição de dez quintilhas a que deu o título de "Labirinto do Autor, queixando-se do mundo", que é uma composição destinada a ser lida em vários  sentidos e daí o seu nome: pode ser lida naturalmente, do princípio para o fim; de forma invertida, do último verso para o primeiro; ou de forma alternada, em que se pode ler as quintilhas ímpares e, depois, as quintilhas pares, e sempre com perfeito sentido!...

BRAGANÇA, António (1981). Textos e comentários, c/ adaptações.
 

Publicado por

Joaquim Matias da Silva

 

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